Estamos no final do mês de agosto e a mata que a chuva vestiu de verde durante os meses de fevereiro, março e abril começa a mudar de cor. Os galhos surgem nus, despidos, cinzentos com algumas folhas, as mais resistentes, penduradas, ressequidas; outras já repousam no solo, adormecidas entre troncos e pedras à espera da mandíbula perspicaz de um caprino para sugá-la e calar a fome nos meses vindouros; outras se transformarão em alimento para a vegetação rasteira brotar na próxima invernada. A aroeira que perde sua coroa fica de braços esticados, cambaleando, como a pedir socorro; do alto, olha o marmeleiro, a catingueira, o bamburral, pelados, entregues ao calor do sol e ao soprar do vento, desprotegidos, com os corpos expostos. De longe, o juazeiro de raízes profundas aparece com a sua melhor roupa, deseja proteger a vizinhança, mas tampouco pode sair do seu lugar, está agarrado demais ao chão. Fica a olhar de forma desconfiada sem poder fazer nada, apenas espera o homem, a cabra, a vaca, o cavalo a se proteger em sua guarita que abraça a todos sem distinção. As poças d’água que se acumularam apoiadas em barrancos que margeiam as estradas também começam a se despedir e vão sumindo, indo embora, pouco a pouco, deixando sem alimento as algas, os peixes que são tragados pelos longos bicos das aves que ficam de espreita esperando o melhor momento para atacá-los e sugar os últimos suspiros de vida que ainda lhes restam. Pouco a pouco, o homem, o gado, assiste a vida adormecer, o Sol mostrar as ‘ventas’, escanchar em suas corcundas e dançar o galope da seca até a chuva voltar.
Francisco de Assis Sousa é professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no Ensino Fundamental em Vila Nova do Piauí e do Ensino Médio em São Julião-PI
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